A adolescente de 16 anos vítima de estupro coletivo no Rio de Janeiro disse se sentir “em cárcere privado”, pois não pode “sair de casa para nada”.
— Quando entrei no Facebook, tinham 900 mil mensagens. Tinha gente de Minas Gerais dizendo que ia me matar. Que se fosse em uma comunidade iria morrer.
A garota concedeu entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, deste domingo, quando contou que foi ao morro onde aconteceu o crime “algumas vezes”, mas que nunca havia sido estuprada. Abalada, disse que as cenas que viu, assim que acordou, não saem da sua cabeça.
— Tinha um menino embaixo de mim, um menino em cima e dois me segurando. Comecei a chorar. Tinham muitos homens, fuzil, pistola. A casa estava muito suja, eu estava suja também.
A adolescente comentou que os agressores a chamavam de piranha e vagabunda. Além disso, afirmou não ter usado drogas naquele dia e acredita ter sido dopada.
— Dormi muito tempo. Não é possível com aqueles homens todos lá que não iria acordar se não estivesse dopada.
O caso ganhou repercussão rapidamente com a divulgação de um vídeo no Twitter, fazendo com que o estupro chegasse até a polícia. Não fosse isso, talvez esse seria mais um crime de violência contra a mulher que ficaria escondido no silêncio da vítima. A menina disse que não ia contar “por vergonha”.
— Agradeço muito (o movimento das mulheres que saíram em sua defesa)porque isso não deixou ficar oculto.
A adolescente disse, ainda, que está muito revoltada:
— Tem gente defendendo (os agressores), falando que estou mentindo, sendo que tem um vídeo para provar que estava desacordada no momento, nua. Mexeram em mim, tem fotos, vídeo deles falando quantas pessoas tinham. Então só isso já basta.
Ela não tem dúvida de que foi estuprada e, afirmou que, na delegacia, interrompeu o depoimento ao delegado por se sentir intimidada.
— Quando fui na delegacia, não me senti à vontade em nenhum momento. E por isso as mulheres não denunciam. Tentaram me incriminar, como se tivesse culpa por ter sido estuprada.
Ela conta que tinham três homens dentro da sala, que era de vidro.
— Ele (o delegado) disse: “me conta aí”. Não perguntou se eu estava bem, se eu tinha proteção. Ele perguntou se eu tinha o costume de fazer isso, se eu gostava de fazer isso. O próprio delegado me culpou.