Na semana em que se comemorou o Dia Internacional da Síndrome de Down, a família de um bebê de 11 meses prestou queixa contra a jornalista e blogueira de moda recifense Júlia Salgueiro por causa de comentários preconceituosos feitos por ela sobre uma foto da criança postada no Facebook. O delegado Paulo Rameh, da Delegacia de Casa Amarela, vai pedir à Justiça a decretação da prisão preventiva de Júlia, que deve prestar depoimento na segunda-feira.
A foto foi tirada durante evento voltado para crianças com Down, no sábado da semana passada, e postada pela tia do menino, a jornalista Juliana Preto, na terça-feira. A blogueira comparou as crianças a filhotes de cachorro e classificou o sexo praticado por pessoas com déficit de inteligência como “nojento”.
“É que nem filhote de cachorro. Lindos quando são pequenos, mas quando crescem só pensam em trepar” e “Vai ser um monte de filhote de toin toin” foram alguns dos comentários. Em outra postagem, na qual falava de séries televisivas, retomou o assunto. “Não vale aquela dos zumbis. Sei que apesar de ser muito filosófica, ela é nojenta (assim como sexo entre deficientes mentais)”, comentou. No mesmo dia, no Twitter, afirmou: “Essa galerinha com síndrome de Down tem um fogo na bacurinha desgraçado, né? Só falam em namorar e casar. Aff”.
A mãe da criança, a advogada Maria Cláudia Albuquerque, 28, e o pai, o empresário Heitor Durval, 25, prestaram queixa nesta sexta-feira. As declarações, apesar de terem sido excluídas pela blogueira, foram arquivadas pela família para serem usadas como prova em processo por danos morais. “Ela achou-se no direito de comentar coisas absurdas, de forma muito agressiva e cruel, com uma linguagem chula. Mas nosso filho é muito amado e querido, assim como as outras crianças com síndrome de Down. É inadimissível. Queremos que as pessoas tenham coragem de denunciar casos de preconceito”, afirmou a mãe.
“É um discurso de ódio disfarçado de opinião. Que sirva de lição e ela aprenda a pensar dez vezes antes de fazer qualquer comentário contra uma pessoa com deficiência novamente”, completou o pai.
Segundo o delegado, a blogueira está respondendo a inquérito por injúria qualificada, podendo pegar entre um e três anos de prisão. O crime é inafiançável, mas pode ser respondido em liberdade.
“Já foi confirmada a autoridade e materialidade das provas. Segunda-feira, iremos colher o depoimento dela e, se for necessário, vamos ouvir outras pessoas”, afirmou o delegado.
O advogado Humberto Cavalcante, que defende Júlia, enviou nota afirmando que “o que vem sendo compartilhado não corresponde à realidade dos fatos”. Segundo ele, “o que era um debate entre colegas de forma coloquial numa rede social foi mal interpretado de maneira diferente do real significado”. O advogado afirma que sua cliente não é a favor do preconceito e defende minorias.
Ele acrescentou que Júlia passa por processo depressivo e de síndrome do pânico e está em tratamento após uma tentativa de suicídio. “Frases soltas usadas para criar um novo contexto podem distorcer qualquer história”, complementou.
Com informações do Diário de Pernambuco