O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, afirmou que a cobrança de bagagens em aviões, regra que passará a valer a partir de 14 de março de 2017, resultará em viagens mais baratas para os consumidores.
Aprovada pela Associação Nacional de Aviação Civil (Anac), a regra tem sido muito criticada por usuários e organizações de direitos do consumidor. Inclusive, o Ministério Público Federal anunciou que a mudança é ilegal e que moverá ação judicial para questionar a Anac.
Segundo Sanovicz, a mudança segue uma tendência global que beneficiará o usuário. “Podemos garantir que vai ter modalidades de passagens aéreas mais baratas. Ao redor do planeta, em todos os países em que esse modelo foi implantado, os preços caíram”, destacou o executivo, em encontro com jornalistas.
Ainda de acordo com o executivo, o Brasil abandonou regras dos anos 1980 e que só são utilizadas atualmente em países como China, México, Rússia e Venezuela.
As mudanças feitas pela Anac acabam com o transporte gratuito de malas com até 23 quilos em voos domésticos ou de duas malas com até 32 quilos em voos internacionais. Passa a existir uma tarifa para a bagagem, cujo preço será livremente estabelecido por cada companhia.
Sobre a bagagem de mão, que tinha limitação de gratuidade em malas com peso de até cinco quilos, o limite do transporte gratuito foi aumentado para malas com pelo menos 10 quilos. O tíquete das aéreas terá de especificar claramente quais os valores que serão cobrados dos usuários.
A regra passa a valer para passagens compradas somente a partir de 14 de março, isto é, passagens que forem adquiridas até o dia anterior, independentemente da data da viagem, continuam sobre a regra atual.
Eduardo Sanovicz ressaltou que, na realidade, hoje nenhuma bagagem tem transporte gratuito, porque as empresas aéreas embutem nas tarifas as taxas para todos os passageiros, independentemente do que levam para os aviões.
“Passa a pagar quem usa a bagagem. Quem não usa, que é metade daqueles que viajam, não pagarão”, disse.
O executivo disse que nos últimos quinze há queda de demanda na aviação comercial e que o setor deve encolher em 9 milhões de passageiros neste ano em relação a 2015.
Sanovicz acredita que as mudanças atrairão novamente os usuários. “Isso vai abrir novas classes tarifárias. Vai criar tarifas mais baratas e será uma oportunidade para que esses passageiros voltem a bordo”, comentou, acrescentando que pesquisas apontam que um desconto de 10% em passagem pode resultar no aumento de 14% na demanda.
Ele também afirmou que haverá crescimento do número de passageiros que optarão por carregas bagagens de mão, que permanecem sem cobrança para até 10 quilos. Essa situação poderá ampliar os transtornos muito comuns em determinados trajetos, em que passageiros disputam os pequenos bagageiros dos aviões. “Nós vamos passar agora por uma fase de mudança cultural. Estaremos preparados”, disse.
A questão da bagagem é central nos preços dos tíquetes, porque influencia no peso das aeronaves e, consequentemente, em seu consumo de combustível, que é o elemento mais caro na prestação de serviço aéreo, respondendo por 38% dos gastos operacionais das empresas, contra a média mundial de 28%.
Com a liberação de espaço nos porões das aeronaves, as companhias também terão maior oportunidade de oferecer transporte de carga, gerando receita com outros serviços.
Não se deve esquecer que o Brasil é o país do faz de conta e que o brasileiro tem memória curta, além de aceitar passivamente qualquer absurdo.
Esse discurso de que a cobrança pelo despacho de bagagens reduzirá o preço da tarifa é mais uma balela que eclode na Botocúndia, pois o setor aéreo não demorará muito para criar embustes novos para camuflar os mais antigos.
A cobrança pelo despacho de bagagem deveria estar obrigatoriamente atrelada a passagens com tarifas ultra reduzidas, como acontece na Europa e nos Estados Unidos.