Em conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou que a delação premiada que o empreiteiro Marcelo Odebrecht estaria negociando é uma “metralhadora”. Na gravação, o ex-presidente ainda prometeu ajudar o ex-executivo, que é alvo da Operação Lava Jato, a evitar que seu caso fosse transferido para a vara do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, “sem advogado no meio”.
O conteúdo das conversas, divulgado ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, consta de gravação feita por Machado entregue à Procuradoria-Geral da República com o objetivo de fechar um acordo de delação premiada. A colaboração do ex-presidente da Transpetro foi homologada anteontem pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
No diálogo, Machado e Sarney comentam as delações premiadas da Lava Jato. O ex-presidente da Transpetro afirma que as colaborações vêm “às pencas”. Sarney responde: “Odebrecht vem com uma metralhadora de (calibre) ponto 100”, numa analogia ao potencial destrutivo das revelações do empreiteiro Marcelo Odebrecht.
Sarney também relacionou uma doação de campanha da Odebrecht à presidente afastada Dilma Rousseff. “Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela (Dilma) está envolvida diretamente é que falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do… E responsabilizar aquele (trecho inaudível).”
O ex-presidente ainda atribuiu o caso de corrupção na Petrobrás ao “governo”. “Esse negócio da Petrobrás só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?”, disse. “Acabou o Lula, presidente”, afirmou Machado. “O Lula acabou, o Lula, coitado, deve estar numa depressão”, respondeu o ex-presidente.
Em outro trecho, Sarney disse que ajudaria Machado para que o caso envolvendo o ex-presidente da Transpetro não fosse para as mãos do juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na 1.ª instância da Justiça. Mas o ex-presidente fez uma ressalva: “Sem meter advogado”, repetiu Sarney três vezes a Machado. “De jeito nenhum. Advogado é perigoso”, respondeu o ex-executivo da Transpetro.
Sarney ainda comenta que o presidente em exercício Michel Temer fez um acordo com o Congresso para poder assumir a Presidência. “Nem Michel eles queriam”, disse o ex-presidente. “Depois de uma conversa do Renan (Calheiros, presidente do Congresso) muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.”
Ontem, a Folha revelou também que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu, em conversa gravada por Machado, uma mudança na lei de delação premiada. “Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso”, disse Renan a Machado. “Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo”, responde o ex-presidente da Transpetro, se referindo à decisão do Supremo de autorizar a prisão de réus já em 2.ª instância, antes de esgotados todos os recursos.
No diálogo, Renan afirma também que foi procurado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), que estava com “medo” da delação do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS). “Aécio está com medo. [ME PROCUROU]’Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'”, disse o presidente do Senado. “Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan”, afirmou Machado.
Além de Sarney e Renan, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) apareceu em conversas gravadas com Machado. Após a divulgação do diálogo em que Jucá sugere um “pacto” para deter as investigações da Lava Jato, o peemedebista anunciou sua saída do Ministério do Planejamento, pasta da qual era titular no governo Temer.
‘Solidariedade’. O Estado não localizou o ex-presidente José Sarney para comentar os áudios. À Folha, Sarney informou que conhece Machado há muitos anos. “As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, expressei minha solidariedade na esperança de superar as acusações que enfrentava”, declarou o ex-senador.
O ex-ministro José Eduardo Cardozo, que atua na defesa de Dilma, disse à Folha que a petista “nunca pediu contribuições ilegais de campanha”.
Nota divulgada pela presidência do Senado afirmou que as “opiniões” de Renan – “como a possibilidade de alterar a lei de delações” – já “foram fartamente veiculadas”. Em relação a Aécio, Renan se desculpou por ter se expressado “inadequadamente”. “Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação – e não medo – com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral.”
O PSDB divulgou nota afirmando que Machado acusa Aécio sem provas e, por isso, “será acionado na Justiça”. “Fica cada vez mais clara a tentativa deliberada e criminosa de envolver em suspeições o PSDB e o nome do senador Aécio Neves, sem apontar um único fato que as justifique”, diz o texto.
Com informações do Estadão Conteúdo