A Justiça determinou a retirada das redes sociais de fotos e vídeos do cantor sertanejo Cristiano Araújo sendo preparado para a cerimônia fúnebre. Os registros foram feitos por dois funcionários da Clínica Oeste, que prepararam o corpo para o velório. Google e Facebook estão obrigados a tirar de circulação as imagens, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Os dois empregados foram demitidos por justa causa e indiciados pela Polícia Civil de Goiás por vilipêndio de cadáver — quando há desrespeito ao corpo —, sob pena de reclusão de um a três anos. Uma terceira pessoa está sendo investigada pelo vazamento do conteúdo.
O juiz da 3ª Vara de Família e Sucessões do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), William Fabian, considerou que “a publicação das imagens de necrópsia e da preparação de cadáver, ocorrida concomitantemente ao velório e sepultamento do cantor Cristiano de Melo Araújo, além de revelarem inquietante morbidez, apresenta-se extremamente desrespeitosa ao sentimento de luto das famílias dos vitimados no trágico acidente que ceifou-lhes as vidas, ferindo frontalmente o direito constitucional da intimidade, insculpido no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal Brasileira”. O magistrado ressalta ainda que Facebook e Google têm responsabilidade solidária pela veiculação do material e estão sujeito a processos por dano moral à família das vítimas. A medida deve ser cumprida imediatamente pelos escritórios de representação das companhias no Brasil.
A rapidez com que conteúdo se espalhou decorre da projeção de Cristiano Araújo e da falta de ferramentas mais eficientes no controle da divulgação. O especialista em redes sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Edney Souza compara o recebimento desses arquivos — por muitas vezes de forma involutária — a mecanismos como mala direta e telemarketing. “Antes, a transmissão era um pouco mais controlada, em razão dos custos para quem envia. Com a internet, o custo é quase zero e o material é facilmente difundido.” Ele acredita que, em um futuro próximo, seja possível coibir esse tipo de atitude. “O Google já trabalha no desenvolvimento de um mecanismo que impeça que o conteúdo seja indexado. As próprias empresas têm trabalhado nesse sentido.”
O material circula desde a quarta-feira pelas redes e, já no velório do artista, havia burburinho sobre a repercussão dele. Chegou-se a atribuir a divulgação irresponsável a servidores do Instituto Médico-Legal (IML) de Goiânia, fato negado pela diretoria do órgão horas depois do enterro das vítimas. Um dia após a divulgação, os técnicos em enfermagem Márcia Valéria dos Santos e Marco Antônio Ramos foram demitidos por justa causa. Ontem, eles chegaram a ser ouvidos pela Polícia Civil e, depois de indiciados, foram liberados. Os ex-funcionários podem ser condenados a até três anos de prisão.
No vídeo feito por celular, Márcia avisa que vai se aproximar do corpo para mostrar o rosto do cantor. “Vou virar para cá para mostrar o…” e revela o rosto de Cristiano. Ela ainda conversa com o colega e diz “dá um tchau”. Em outro momento, ela pede para que o outro funcionário mexa no corpo de Cristiano. A administração da Clínica Oeste admitiu que a gravação foi feita nas dependências da empresa e lamentou o ocorrido. Por meio de nota, informou que “está à disposição das autoridades para novos esclarecimentos”. E completa: “A empresa reitera o seu compromisso com a ética, a transparência, o zelo pela prestação do serviço e o respeito às famílias e se solidariza com todos os que, como ela, repudiam tal ato”.